"não sei pousar": notas sobre um processo de criação

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aconteceu aqui em mogi das cruzes (sp); no começo de junho (2011), mais exatamente no domingo dia 5, gui cardoso praticamente me intimou a fazer a letra para uma melodia sua; ele já havia pedido dias antes - quando estávamos bebendo juntos à noite, como de costume, na pizzaria morumbi - para que eu escrevesse algo a partir de um primeiro verso que ele rabiscou em meu bloquinho de poemas (que sempre carrego no meu bolso traseiro esquerdo); como não estava inspirado, falei, na ocasião, que iria pensar; pensei nada! por isso, a intimação no domingo 5: "vamos fazer essa música hoje, gabriel!"; estava um dia frio e fomos, eu, o gui e o seu violão, para a casa da amanda esteves, que cedeu gentilmente sua cozinha e algumas latas de cerveja, enquanto ela trabalhava, trancada em seu quarto em uma resenha que teria que entregar no dia seguinte para sua pós-graduação no centro maria antonia; não tenho bem certeza, mas acho que após umas três horas sobre alguns versos, muitos deles abandonados, três conjuntos de versos se estabeleceram, ao nosso parecer perfeitamente harmonizados e adequados para a melodia já composta; gui ficou exultante com os versos que fiz para o estribilho e imediatamente decidiu o título da música; difícil lembrar quais versos são de quem, mas basicamente tem mais coisa minha na primeira estrofe e a segunda foi basicamente composta pelo gui; paramos, esgotados e embotados e felizes; mas faltava uma parte: a terceira, que deveria produzir um efeito de quebra melódica, assim como na letra, com o que já havíamos feito nas duas estrofes e no estribilho; gui tentou alguma coisa nova no violão e eu nos versos, mas nada mais saía; desistimos e pedimos, assim que a patricia esteves chegou, uma batata suíça recheada de filé mignon... obviamente ambas irmãs ouviram em primeira mão o que já havíamos feito; a semana passou e o gui me falou que nosso amigo kacá novais havia conseguido terminar a parte que faltava e que a música estava pronta; confesso que fiquei um tanto enciumado... como assim? é que gui tinha recebido uma melodia de kacá e estava devendo "alguma coisa" para ele... então deixei pra lá, melhor não se meter nessas negociações de músicos e compositores; na semana seguinte encontrei gui no baratotal e ele me mostrou a parte da melodia e dos versos que faltavam, a terceira parte, composta pelo kacá; simplesmente perfeita, poética e musicalmente falando; uma semana depois, encontrei kacá no baratotal e ele me confirmou uma informação que gui já havia me passado: kacá havia tocado "não sei pousar" no bar brahma em são paulo e recebidos aplausos em pé pela música; juro que a euforia de kacá até me deixou constrangido; ele ficou pelos menos uma hora falando da música na nossa roda de amigos; há três anos convivendo com compositores na noite, nunca tinha visto kacá ou qualquer outro músico babando em cima de uma única composição; agora, após ela já ter sido executada diversas vezes na noite mogiana (mais brasil, baratotal, monte líbano) e no my space (via facebook), estamos os três eufóricos com o cd em gestação do gui - principalmente porque sabemos de tantas outras belas canções desse e de outros compositores mogianos; e eufóricos também para continuarmos compondo nessas parcerias que parecem que dão certo...

ouça "não sei pousar"
(gui cardoso/kacá novais/gabriel tarragô)
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